A cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras,
aponta estudo
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Pesquisa mostra que ser negro, jovem e pobre aumenta potencialmente sua chance de ser assassinado / Foto: Diego Calvo |
Por Lamé Smeili*
Estudo feito na Universidade Federal de Minas Gerais pela
pesquisadora da Faculdade de Medicina, Rejane Ferreira dos Reis, aponta que
entre 2000 e 2014, jovens negros residentes em Belo Horizonte, morreram 5 vezes
mais (em números quantitativos), que jovens de outra cor.
Isso me chamou atenção e fui pesquisar números mais próximos
de nós, guarulhenses.
Segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea), chamado de Atlas da Violência, de 2017, Guarulhos está em 85º
lugar no ranking dos assassinatos, com 209 vítimas, levando em consideração sua
população estimada de 1,3 milhão de habitantes. Infelizmente estes números não
indicam quantos jovens eram negros.
Já no Estado de São Paulo, um outro levantamento pelo mesmo
instituto, mostra que o índice de assassinatos de pessoas negras reduziu pela
metade em 5 anos. Em 2005 eram 31,1% e em 2010, 15,4%, o que não conforta em
nada a situação.
O Atlas da Violência ainda mostra que a cada 100 mortes
violentas, 71 são de pessoas negras e é imprescindível ressaltar que a taxa de
mortalidade é maior entre os jovens de 15 a 19 anos em estado de
vulnerabilidade social.
Todos estes números mostram que, para além do fator
“pobreza” como indicativo de violência, vemos que há uma segregação velada que
resulta na morte sistêmica levando em consideração a cor da pele, no caso a
negra.
Nossos jovens estão morrendo no atacado, principalmente os
jovens negros e pobres, dados encobertos por uma fachada de “democracia
racial”.
Como secretário de Assuntos Difusos, Secretaria destinada a
cuidar das minorias em Guarulhos, quero deixar aqui meu repúdio a esta situação
nacional.
Ainda que São Paulo, segundo números do Ipea, tenha sido o
Estado que mais diminuiu o índice de assassinatos de jovens negros, não devemos
cessar a luta para conseguirmos baixar ainda mais estes números, a começar por
Guarulhos, servindo de exemplo como uma política humana mais justa e
igualitária.
Enquanto você lia este artigo, infelizmente, um jovem negro
foi morto no Brasil!
*Lamé é
jornalista vencedor do
Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, concedido pelo Sindicato
dos Jornalistas Profissionais de São Paulo,
por uma série de reportagens contra a violência. É vereador licenciado em
Guarulhos no terceiro mandato, foi Secretário do Trabalho também na cidade e
criou e presidiu a Frente Parlamentar em Defesa do Idoso. Atualmente é o
Secretário Municipal de Assuntos Difusos, a convite do prefeito GUTI.